“O América não valorizou meu trabalho”, diz Cascata
Foto: Artur Dantas
Ídolo da torcida americana e abcdista falou sobre a sua vida, atuação no futebol nacional e nos dois principais clubes potiguares.
Antônio Givanildo da Silva Santos, atleta de 28 anos é considerado por parte dos torcedores e imprensa especializada um dos melhores jogadores que atou por América e ABC , nas Séries B e C, respectivamente. Após 50 dias sem jogar pelo alvinegro, o meia de ofício marcou neste sábado (14), contra o Ituiutaba (MG), o gol que deixou o clube mais perto do título inédito da Terceirona do Campeonato Brasileiro. Em entrevista ao Nominuto.com, o atleta falou sobre o difícil início da carreira, clubes por quais passou e expectativa para a final da 3ª divisão.
Nominuto – Cascata, muitos jogadores têm talento para o futebol, mas no início é difícil fazer do esporte a profissão. Como foi o seu início?
Cascata- Sou de uma cidadezinha chamada Tanquinho, na Bahia. Meu pai era porteiro de uma escola estadual lá e minha mãe era empregada doméstica. No começo, vendi geladinho, que o pessoal aqui conhece como din din, depois trabalhei como ajudante de pintura de carro e em posto de gasolina. Foi aí que tudo começou. Em 2004, quando eu tinha 21 anos, Deus me abençoou e colocou uma pessoa no meu caminho. O dono do posto onde eu trabalhava me ofereceu uma oportunidade, que foi me indicar para fazer um teste na Catuense. Eu fui abençoado a acabei passando na peneira. Sempre gostei de futebol. Meu pai foi jogador amador, só que era alcoólatra e encerrou a carreira precocemente por causa de uma contusão que não foi cuidada em virtude da bebida. Hoje, eu glorifico a Deus por ele não beber mais. Já eu sempre tive o sonho de ser jogador de futebol. Cheguei a morar em Salvador na casa de um tio meu justamente para procurar oportunidade no Bahia e Vitória. Cheguei a ser aprovado nas categorias de base do Vitória depois de marcar um gol no Campeonato Dente de Leite, em 1998, o pessoal do clube me convidou, mas não deu certo. Nominuto – Por que?
Cascata – Porque eu usei o documento do meu irmão. Ninguém da minha família sabia. Quando eu cheguei em casa muito feliz para minha mãe assinar, ela disse que não iria fazer porque era uma coisa errada e ela não gostava de fazer nada errado.
Nominuto – E como você se sentiu?
Cascata – Para mim aquele momento foi muito triste. Acabei ficando uns dias assim. E, depois disso, minha mãe não me deixou ir para Salvador, disse que eu ia estudar. Aquilo me marcou, fiquei muito triste, mas ela sempre falava para mim que o que tivesse de ser meu iria ser. Se tivesse de ser jogador profissional de futebol, seria. E por incrível que pareça, em 2004, quando tive a oportunidade de ir para a Catuense, joguei com a maioria dos atletas que estavam na divisão de base do Vitória. Foi Deus mais uma vez mostrando que ele é Deus e que tem um plano na minha vida. E a cada dia ele vem me abençoando. Depois que eu me tornei profissional, minha mãe sempre me perguntava: “O que eu te falava? Se eu tivesse assinado o documento concordando com uma coisa errada você não estaria aqui, como muitos que fizeram não estão”. Para mim foi maravilhoso o que minha mãe fez porque você acaba tirando espaço de uma pessoa que está com idade certa para jogar. Hoje, trabalho tranquilo, sem desmerecer ou passar por cima de ninguém. Só represento a equipe que me paga e honro a camisa do ABC, que é um clube que marcou e está marcando a minha vida.
Nominuto – Por quais outros clubes você teve passagem?
Cascata – Tive passagens pela Lagartense, de Sergipe, Asa de Arapiraca, depois fui vendido para o futebol paulista para um clube chamado Votoraty, que era detentora do meu passe até eu vir para o ABC. Mas além desses, passei pelo XV de Piracicaba, Ferroviária de Araraquara, Metropolitano (SC), Mirassol, América, São Caetano, Sertãozinho e hoje, graças a Deus no ABC.
Nominuto – Cascata, você foi tido por muitos com um dos melhores jogadores da temporada 2010, tanto na Série C como no Campeonato do Nordeste. Como foi para você ter ficado fora do jogo do acesso contra o Águia de Marabá?
Cascata – Para mim foi como o jogo da final do Campeonato Estadual de futebol. Nós ganhamos, mas perdemos. Eu perdi porque eu fico feliz em jogar bola, gosto de jogar bola. Eu gosto de ver a Frasqueira gritando meu nome. Aquilo enche meu ego. Não posso mentir e dizer que isso não acontece. A Felicidade foi muito grande pelo acesso, mas para mim foi como seu eu tivesse perdido alguma coisa. Foi o caso do Estadual. A festa não foi completa porque envergonhamos a torcida dentro da nossa casa. Tínhamos o objetivo de sermos campeões invictos, mas perdemos por 2 a 1. Entretanto, isso já foi superado. Agora terei uma nova oportunidade. Minha esposa até brincou comigo porque na foto do acesso eu não estava, mas todo mundo falava que eu jogaria a final. Graças a Deus, devido a muitas orações de todos os pastores que oraram por mim, tenho a chance de ajudar meus companheiros e fazer jus a tudo o que foi feito por mim dentro do clube.
Nominuto - Você passou 50 dias parado tratando uma contusão. Como está a expectativa para a final? Vem com muita vontade?
Cascata – Claro. Aliás, vontade nunca faltou da minha parte. Claro que hoje a minha expectativa é muito grande. Minha contusão foi séria, abriu quatro centímetros da minha coxa e tive um edema de 10 centímetros. Marcou muito em mim. Mas espero que no próximo jogo eu possa dar prosseguimento a tudo o que a equipe vinha fazendo e que o professor Leandro Campos possa escalar a melhor equipe para a partida.
Nominuto - Como é seu relacionamento com a diretoria, torcida e jogadores do ABC?
Cascata - O ABC hoje tem um clima muito bom. Não estou puxando o saco. Existe um respeito muito grande da diretoria. Lá ninguém é mais do que ninguém. O presidente sabe disso tanto quanto a tia que faz a nossa refeição, como aqueles que cuidam do campo. Certamente, o presidente é o meu patrão, mas não quer dizer que ele venha a ter uma contribuição maior para o clube do que eu. O presidente é maravilhoso. Não estou dizendo isso da boca para fora, até porque se eu não fizer o meu trabalho dentro de campo, não são palavras que vão me ajudar a ficar no clube. Mas além dele temos Flávio Anselmo, que é um pai para mim aqui no RN, tenho um respeito muito grande por ele assim como por César Augusto, Paiva Torres e pela comissão técnica que também tem um grande respeito por nós. Os jogadores têm um comprometimento e união muito grandes, não existe qualquer tipo de vaidade. É isso que faz um clube forte.
Nominuto – Correram alguns comentários na cidade que apontavam para uma possível desavença sua com o técnico Leandro Campos, que não havia deixado você participar de jogos decisivos. Até que ponto isso é verdade?
Cascata- Isso é boato. No ABC não existe qualquer tipo de desavença. Tem gente que inventa confusão, que tirar alguma cosa do clube. Já me perguntaram também se eu tinha chegado bêbado no clube, no treino. Isso é uma coisa infundada. Eu tenho um respeito muito grande pela minha equipe. Eu e o professor temos um relacionamento muito bom. Eu queria jogar e ele viu que eu não tinha condições em partida anteriores. Ás vezes você quer jogar, quer ajudar, mas não tem condições físicas. Ele é o comandante e eu sou um subordinado dele. No meio da semana passada ele me chamou e veio conversar comigo, dizendo que achava legal a minha vontade de ajudar a equipe, mas eu tinha que respeitar meu corpo porque a lesão havia sido grave. Já na segunda-feira passada (8), ele me chamou e perguntou como eu estava. O professor e eu temos uma amizade muito boa.
Nominuto – Você jogou no América e foi considerado um dos melhores jogadores. O que representou o clube na sua vida?
Cascata – O América foi um clube que me deu uma oportunidade muito grande. Não vou deixar de reconhecer isso. Fui muito bem tratado, bem recebido, tenho um respeito muito grande pela diretoria, pela torcida e por todos aqueles que fazem parte da empresa e do clube América. Ainda recebo mensagens de torcedores do clube e respondo todas. Mas hoje, na minha vida, sou abcedista. Estou feliz porque o que a diretoria do ABC fez por mim o América não fez que foi valorizar meu trabalho. Quando eles tiveram a oportunidade de comprar meu passe, não fizeram. Já o ABC em nenhum momento hesitou. Sem dúvidas o América é um grande clube, estou triste pelo o que está acontecendo porque eu tenho amigos lá dentro, funcionários, pessoas da cozinha e jogadores. Tenho amizade com Berg, Adalberto, Fábio Neves, que saiu, Luisão, Júlio Terceiro, que também saiu, Reinaldo, Rafael Paraná. Fico um pouco triste com a posição do time na tabela, mas tenho certeza que se houver a queda, com a grandeza do clube, eles voltam para a Série B com toda a certeza.
Nominuto – O ABC serve como exemplo?
Cascata – O ABC é um exemplo não só para o América como para muitos clubes no Brasil. Organização, respeito que tem pelos jogadores e funcionários. Não sei como era a diretoria anterior, mas digo que a atual soube montar um plantel forte e soube fazer contratações. Mas acredito que para ter se reestruturado em menos de um ano o apoio da Frasqueira foi essencial. Sem ela, jamais teria acontecido.
Conteúdo retirado do site http://www.nominuto.com/
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