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domingo, 7 de novembro de 2010

Quando o Bahia subir

Foto e texto retirado do Blog de Marcelo Barreto

Quando o Coritiba subir, terá sido com raça e competência para não se deixar abalar por um rebaixamento no ano do centenário. Quando o Figueirense subir, ninguém estranhará receber um time bem organizado como ele na Série A. Se o América-MG subir, será a volta de uma camisa tradicional que já conheceu até a segundona do Mineiro. Se o Sport subir, o fará com uma arrancada irresistível, para devolver ao convívio dos maiores quem há pouco venceu a Copa do Brasil e fez belo papel na Libertadores. Se a Portuguesa subir, será com uma reta final daquelas de aposentar os matemáticos. Cada acesso terá sua história, seu mérito, seu valor. Mas hoje – com a permissão dos torcedores de todos os candidatos – eu quero falar do Bahia. Tenho uma simpatia pelo tricolor da Boa Terra que vem dos tempos de criança. Gostava do uniforme, dos Ba-Vis, do ponta-direita Osni. Nos Gols do Fantástico, as cores das imagens que vinham de Salvador pareciam mais vivas e a rede da Fonte Nova demorava mais tempo a estufar. O Bahia, para mim, sempre foi um grande. E eu o vi mostrar essa grandeza a todo o Brasil em 1988, com a elegância sutil de Bobô que inspirou o verso de Caetano Veloso. (Aliás, esse título tem uma história que merece parênteses. Um conhecido jornalista do Rio de Janeiro, cobrindo a semifinal em Salvador, dizia a todos os motoristas de táxi, imitando a forma local de pronunciar o nome do time: “A imprensa carioca está com o Baêa!” Foi uma estratégia bem-sucedida para atrair a simpatia dos soteropolitanos, até a corrida em que o taxista respondeu: “(Piiii)-se, eu sou Vitória.”)
Então, aproveito para dizer que gostar do “Baêa” não é desmerecer o Vitória. É que o rubro-negro está onde merece, entre os grandes. Enquanto isso, o tricolor sofre o mais longo afastamento da Série A entre os times mais tradicionais do Brasil. Há trajetórias mais dramáticas, como a do Santa Cruz, que despencou para a Série D e de lá não consegue sair. Mas desde 1997 – quando foi rebaixado, menos de uma década depois de ser campeão -, o Bahia passou apenas quatro anos na Série A (à qual voltou via Copa João Havelange) antes de cair de novo e conhecer a Série C.
Nessa acidentada trajetória, o tricolor perdeu jogos, perdeu a Fonte Nova (interditada por causa de um acidente num jogo em que conseguiu o acesso à Série B), perdeu credibilidade, mas não perdeu a torcida. Ao longo de uma década infeliz – em que não conseguiu se impor sequer no âmbito regional, conquistando apenas um Campeonato Baiano -, ficou claro que os torcedores eram seu maior patrimônio. Os gritos de “Baêa!” encheram estádios até na Série C. Uma vez escrevi que tamanho de torcida deveria ser contado no estádio, e por esse critério a do Bahia seria a maior do Brasil. (Era só uma licença poética, mas serviu para que eu fosse espancado em algumas comunidades na internet. Pois agora acrescento outra, mas dou o crédito para sermos linchados juntos: meu amigo Toninho Neves me disse que o Bahia é o time fora do eixo Rio-São Paulo que mais bota torcedores nos jogos fora de casa. Pronto, falei.) Maior ou menor do que as outras, a torcida do Bahia já deu mostras da festa que fará quando seu time voltar à Série A. A recepção do time no aeroporto, depois da vitória sobre o Paraná, foi uma das imagens mais impressionantes do ano no futebol brasileiro. Não era o jogo da classificação. Era a trigésima segunda de 38 rodadas da Série B. E nem mesmo a liderança tinha sido conquistada. Mas o time chegou a Salvador nos braços do povo. Só faltou um caminhão do corpo de bombeiros – ou, sem medo de estereótipos, um trio elétrico – para o desfile triunfal. Era um anúncio, uma prévia das manifestações que estão por vir.
Porque o Bahia vai subir. A falta de lógica do Campeonato Brasileiro, seja ele de Série A ou B, se esmera em desmentir garantias como essa (até hoje Paulo Cesar Vasconcellos tem de ouvir minhas provocações pela frase que repetia no Troca de Passes em 2007: “O Corinthians não vai cair!”). Mas eu me arrisco. Porque não é só matemática, é a paixão que está traçando o caminho da volta. O Bahia, que já era grande em 1959, quando deixou para trás o Santos de Pelé e conquistou a Taça Brasil (da qual seria ainda vice-campeão em 1961 e 63, perdendo para o mesmo Santos, porque ganhar de novo do time do Pelé era brabo), vai reencontrar seu lugar entre os maiores. Eu adoraria completar: para não mais sair. Mas isso, na situação atual do futebol brasileiro, não é fácil para ninguém. Por enquanto, só dá para dizer que quando o Bahia subir vai ser lindo.



Marcelo Barreto é jornalista do Sportv

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